quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

LEMBRANÇAS

Gosto de lembrar da minha infância, dos anos dourados da minha adolescência, dos amigos que não tenho mais por perto, enfim, da vida que tive e que sempre vou amar.
Mas se tem algo de que gosto de lembrar são dos dias em que, sozinha, andava pela minha cidade pela manhã logo cedo para ir ao roçado do meu avô.
Lembrei-me disto porque esta manhã acordei cedo e fui pegar o ônibus e, como tinha apenas duas pessoas na rua, pude sentir a mesma sensação que eu tinha quando caminhava ao roçado para ver meu avô Chico Mateus e ele me recebia com um meio sorriso, pois gostava de fingir que eu perturbava a sua tranquilidade. 
Gostávamos de sentar no chão, debaixo da cabanhinha que ele fazia, e comer melancia,pinha, que eu pegava ainda de vez, o que o deixava transtornado, pois dizia que eu não deixava a fruta ficar madura, e eu, chateada por não estar do meu gosto, jogava ela fora, rsrsrs... 
Não lembro bem o que conversávamos, mas meu avô não era de muito papo. Porém eu amava ficar com ele. Gostava do jeito calado e reservado dele. Muitas vezes eu ficava na sombra olhando-o trabalhar e o enchia de perguntas... Ele sorria e dizia: " meu bichinho, você não tem que ir pra casa?" Eu ria e dizia que ficaria ali até ele ir embora.
Então, quando começava a entardecer, ele recolhia sua mochilinha, sua inseparável garrafa de café e íamos um ao lado do outro, eu dançando e correndo ao seu redor as vezes, e em outras bem comportada ao seu lado. Amava meu avô, ainda o amo, e sua lembrança é muito forte, pois foi um dos poucos homens honrados que conheci.
Sei que ele me amava, pois sempre me sorria do seu jeito reservado e enviesado, mas seus olhos me diziam o quanto ele era feliz por ter uma pirralha que não largava do seu pé, que o seguia na feira de domingo e que o enchia de perguntas, tagarelando ao seu redor feito abelha, enquanto ele arava a terra para a próxima colheita de feijão verde,de milho, enfim, eram os melhores momentos do meu dia.
Sei, talvez você pense que de fato eu o perturbava, mas tem uma coisa que precisam saber sobre meu avô: ele não era de demonstrar com abraços e beijos que gostava de você. Então, ninguém se aproximava, digo ninguém mesmo, mas eu nunca fui de seguir regras, por isso eu gostava de abraçá-lo, de acariciar seu cabelos brancos e de beijá-lo. Ele dizia: " Vai cheirar mulambo, menina." Mas seus olhos sorriam e isso é tudo do que uma criança com o meu temperamento precisa para continuar. Ele era o chefe da casa, foi assim que ele foi ensinado, mas eu conseguia tocar seu coração. E ele retribuía com amor e proteção.
Hoje fico pensando em como é triste algumas crianças não ter esse privilégio que eu tive, de ter um avô presente, cuidadoso e protetor, que nunca pensou em mim além do que eu era para ele, sua neta, seu sangue, sua descendência...
Francisco dos Santos Silva, um homem que vale a pena ser lembrado...
Vou sempre te amar.

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